terça-feira, 19 de julho de 2011

Devaneio Sísmico

Inspiração devaneada em conjunto com Thiago Sabb, do blog: http://paradoxosismico.blogspot.com/


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E naquelas nuvens alaranjadas, quase sentia o sabor artificial daquela bala que comíamos no colégio. O gosto da sua boca no primeiro beijo.


Que gosto doce teriam aquelas nuvens, e tão macias como o seu abraço naquela tarde ensolarada, sentados na grama, olhando o céu


Com toda aquela cor, nem lembrava a cor do céu ou da grama e tampouco do sol. Só lembrava a cor da sua pele, branca, em que se concentram todas as cores. Da sua boca, não há como esquecer, pois era a mesma que tomava conta das suas maçãs quando eu lhe roubava mil beijos.­


Quanto ao perfume que se desprendia de seu pescoço– melhor que o aroma da grama recém-cortada ou da terra pela chuva lavada–, este era o cheiro que se impregnava em meus cabelos, no meu travesseiro, e do qual eu não queria me livrar jamais.


Hoje, vejo que éramos só crianças –com sentimentos adultos– e que talvez muitos adultos nunca sentiram, quiçá sentirão algum dia. O mais puro, honesto, e ao contrário do poeta, o sentimento que não existia ciúmes, não para nós.­


No céu, agora, vejo as mesmas nuvens alaranjadas daquela tarde, mas o momento é outro, tão distante da beleza que foi um dia. O céu que está acima de mim pode ser o mesmo acima de você, mas o chão sem dúvida não é o mesmo, e eu já não ando pela mesma grama que costumávamos nos deitar.


Mas a noite, ainda consigo sentir o seu cheiro no travesseiro, dos dezoito aos trinta. As vezes me pego em um devaneio ou outro, tentando imaginar como seriam nossos frutos. Imagino que seriam de laranja.­ Doce como a sua boca naquele nosso primeiro beijo.




por Luiza Leite e Thiago Sabb

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