sexta-feira, 1 de julho de 2011

devaneio secreto

Sua voz soa como música nos meus ouvidos. Nem me atento às palavras que saem de seus lábios, elas não me interessam, não me dizem nada sobre você; falam de algo que eu preciso saber, mas não quero, não agora. Fecho os olhos e ouço só a sua voz, esse timbre aveludado que me faz sonhar acordada, me faz pensar como seria o gosto na boca. Vou mudando as suas palavras, e pouco a pouco, um discurso sobre história da arte vira um sussurro apaixonado soprando perto da minha orelha e eu sorrio com os olhos fechados, pensando no meu segredo.
 
Ninguém sabe dos meus devaneios.
 
À noite você me acompanha até em casa, vamos caminhando pelas ruas escuras e dessa vez eu nem me atento para os perigos da cidade, meus olhos e ouvidos estão só em você, que fala só para mim, olha só para mim, e o momento parece eterno, parece mágico, parece filme - e dou piruetas de balé no meio da calçada pra parecer filme mesmo, e você ri, me chama de doida, e eu sou mesmo. Paro na entrada do meu prédio e o caminho parece que foi curto demais. Você se despede com um aceno, mas este é o meu filme. Seguro sua mão e furtivamente toco seus lábios com os meus e eu sei que você não sabe o que fazer e por isso sorrio na sua boca. Foi pouco, alguns segundos, mas consegui sentir o gosto de chocolate da sua voz de veludo, e isso pra mim já é tudo.
 
Te deixo confuso na calçada, tentando entender, tentando me entender, e o quê fazer depois, e quase sinto pena, se não sentisse um prazer incrível por realizar essa fantasia secreta. E se no outro dia você quiser conversar, e dizer que não vai dar certo, não deve se repetir e é melhor eu desistir, vou sorrir apenas e dizer: só queria saber como era.

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