sexta-feira, 2 de julho de 2010

Heartbreaker

Eu sentia o seu perfume do outro lado da pista de dança. Eu via os olhares que você me lançava, e depois como mexia no cabelo e fingia rir, desviando o olhar, só pra disfarçar. Eu sabia que você me queria. Sabia que não havia mais ninguém e que você tinha colocado aquele vestido preto justo só pra mim. Eu sabia de tudo isso, mas ignorava. Ou pelo menos tentava ignorar.

Porque você nunca foi mulher de ser ignorada. E era por isso que você me provocava daquele jeito. Você sabia que eu era incapaz de resistir ao seu olhar de assassina de corações, de heartbreaker. Porque era isso o que você era. O que você fazia. Você seduzia e colecionava corações de homens como eu. Completamente indefesos diante do seu sorriso charmoso e da doçura das suas palavras. E depois de apaixonar cada um desses corações, cansava-se da brincadeira e simplesmente livrava-se deles, desfazendo-os em pedaços tão pequenos que depois era quase impossível colocar tudo de volta no lugar. E nunca ficava totalmente bom.

Mas naquele dia, não, naquela noite... Naquela noite eu te ignorei. Ignorei até você se cansar. Até você se irritar. Até você me olhar daquele jeito molhado, quando seus olhos já não aguentam mais segurar as lágrimas, e sair da festa, sozinha, quase correndo, sem dar explicação.

E quando eu fui atrás e te encontrei lá fora, encolhida de frio, sentada quase agachada no meio-fio, tentando consertar a maquiagem borrada no espelhinho portátil, você me viu no reflexo, me viu atrás de você, e fechou o espelho com tanta violência e se virou pra mim de um jeito tão assustado que parecia que eu é que era o assassino nessa história. E então você soltou um suspiro e anunciou minha vitória, com a boca amarga. Eu peguei seu rosto em minhas mãos e disse pela milésima vez que aquilo não era uma competição, que não tínhamos apostado nada. Na verdade, me corrigi, tínhamos apostado tudo, mas os dois tinham saído vencedores. E quando você me olhou daquele jeito infantil de que entende mas que não acredita no que ouviu, eu sorri e acariciei sua bochecha com o polegar. Então você sorriu e socou de leve o meu ombro, mas antes que isso levasse a uma guerra de tapas e cosquinhas, eu te beijei.

E nenhum de nós teve seu coração despedaçado.

Um comentário:

Laís Ramos disse...

Quero um final assim pra mim. Quero ser uma heartbreaker. Será que consigo?